joão filipe gomes_ooutrodemim@hotmail.com

16 de jul. de 2007

Dia difícil este, em que nos deparamos com a inevitabilidade dos sentimentos impossíveis!

25 de fev. de 2007

Mais uma noite, escura e solitária como muitas outras. Um dia a mais, um dia a menos, o tempo que resta para sair de mim e encontrar o amanhã que chega agora. O corpo cansado, dorido, os músculos contraídos e, estranhamente, sinto-me leve, como se não existisse chão, como se deslizasse. O vento, sempre o vento, passa por mim como se não houvesse matéria, o vento que me preenche os ouvidos e o cérebro, que me transforma e me diz que sou dois! Aqui mesmo, nesta rua escura, onde nunca imaginei passar um dia, sei que não posso ser apenas um!

Vivo nesta luta incessante comigo mesmo, na tentativa vã de encontrar um fio condutor, um destino lógico, um sentido para mim... e agora, no escuro da noite sem lua, sei que não posso vencer sem que a derrota me deite por terra! Sou feito de dois opostos incansáveis, certos na razão de cada um, na vontade de ter razão, na vontade dessas vontades, certos na impossibilidade de saber se o caminhos que cada um tenta seguir é melhor ou pior. Sou feito do cansaço desta luta silenciosa... desta dor que permanece e me mastiga os músculos, as palavras, os pensamentos, que me abre violentamente os olhos o mundo que me rodeia.
Sei agora, levado pelo vento que não tem destino, que de nada me serve lutar. Sei agora que haverá sempre vitória e derrota, que não haverá despojos que compensem o que fica por viver. Sei que perco sempre, porque não posso ser imparcial nesta batalha, porque sou eu, todo eu, quem alimenta o fogo da vontade.
Estou cansado! Terrivelmente casado de lutar pela resposta à eterna pergunta dos meus dias, das minhas noites. Sei agora que nunca saberei se a pergunta faz qualquer sentido... porque não haverá nunca uma resposta que me tranquilize! Sei agora que de nada serve lutar! Resta-me viver!
Olho o céu de estrelas e nenhum luar e sei, com tudo o que resta de certeza em mim, que o mundo mudou, o meu mundo mudou neste instante... sei que nenhum de mim poderá morrer só. Sei que tudo isto é apenas o início, sei que a procura da identidade acabou! Sei agora o que sou!
Aqui, sentado de frente para o mar, vejo o futuro como um livro aberto, vejo as páginas brancas, nenhum vestígio de verdade... essa, escrevo-a eu neste mesmo instante!

6 de fev. de 2007

Saí de casa, sem destino certo, sem certeza de voltar, para um encontro marcado no momento. A profunda sensação de liberdade, uma liberdade sem chão que me levava para a cidade onde me perco nos lugares que já conheço pelo cheiro. Sem noção das horas, lá estava, de coração aberto, de alma escancarada, sem conter os pensamentos ou as palavras, absorvendo tudo à minha passagem.

Do outro lado da mesa, alguém que brilha, com um olhar cansado, mais maduro, pausado e sonhador. Jantei com P. por entre histórias, experiências partilhadas com as saudades a arder em lume brando. Comemos e bebemos. Bebemos mais. Soubemos ali, que o mundo é maior que nós, que queremos, sem consciência, beber tudo, devagar, pelos cantos perdidos e fervilhantes de vida. Contigo, senti a pequenez do meu ser, soube do alcance da minha vontade!

As horas passaram, tínhamos de ir, soube - sem o saber - que não te voltaria a ver. Mesmo assim, sorria enquanto saímos para o frio da rua. O destino era um barco deprimente, uma cama vazia... quando, do nada, aquele sorriso iluminou a noite! Nada a fazer, um abraço sentido, Adeus, e entrar no carro. Sim, nada a fazer se não seguir a corrente que me arrasta. G. apareceu e levou-me para o mundo do sonho, dos sonhos imaginados e ali feitos em gente.

A noite frenética, estridente, à flor da pele, de novo minha. Era o outro lado do mundo que ali estava, linda como só ela, a transbordar de vida, uma vida contagiante que se cola na pele, que dá sentido às coisas que não percebemos. Era ela, viva e sem disfarce a mostrar-me por que vale a pena sonhar.

A noite, mais uma, intensa, sem destino nem limites... mais uma no caminho da descoberta do Outro...

1 de fev. de 2007

Foram sonhos sonhados de olhos bem abertos, momentos de puro delírio! Cenários, gestos e palavras, sorrisos e até cheiros, sentidos como se fossem reais, aqui, onde a vida chega de mansinho, lenta e pegajosa como a humidade que sufoca em noites intermináveis de vidas sonhadas. Tudo visto e medido, tudo aquilo que sabia ser fatalmente impossível! E, mesmo assim, sonhado até à medula dos ossos, sem masoquismo, apenas o tremendo desejo de sorrir com a vida e com os sentidos despertos.

Sentado, a cadeira desconfortável, a mesa pequena, quadrangular. A vista comovente da cidade que é minha, a música que pede para ser ouvida de olhos fechados. O café bebido, o copo onde o gelo derrete lentamente, o cigarro lânguido na ponta dos dedos. Os passos na escada denunciam-te - tu e as malditas botas de salto - percorro a sala com o olhar, um casal de namorados nos seus segredos, um homem que lê, absorto, a entrada onde apareces com um olhar meio perdido. Conheces o sítio, mas não sabes porque estás ali.

Ali, ver-te caminhar como só tu o fazes, a abrir um sorriso só teu, um olhar de cumplicidade de quem se sabe apanhada num sonho real, de quem sabe que só conta o próximo passo em frente. Paras junto da mesa onde me sentei. Lentamente digo, Que visão fabulosa!, antes de sorrir.

Impossível contar as horas de puro êxtase, saboreando o trago amargo da bebida e a doçura dos teus olhos. Imaginar o toque da tua pele, a curva dos teus seios, o perfume dos teus cabelos... e desejar nunca mais sair dali, daquele espaço, daquela mesa, daquele momento, onde a tua voz se instala para sempre em mim. É o caminho para um destino do qual nos afastamos, só para prolongar a caminhada.

Nada disto aconteceu! Não te vi chegar, não te disse o que pensei, não percebi o que senti. Talvez tenha sido a certeza de que o sonho era apenas isso mesmo, talvez tenha sido o desgosto de já o saber antes! Não conheci as curvas do teu corpo nem senti o teu calor no meu, mas soube, quando o beijo me assaltou, que és tudo aquilo que sonhei!

30 de jan. de 2007

Vi as luzes do meu país. A linha de costa, a minha praia, Beja lá ao fundo e, de repente, Lisboa a entrar pela janela, pelos meus olhos, cheia e iluminada, já nada me separava daquele momento.

Uma calma estranha foi-se apoderando de mim, sem pressas, um frio bom na pele e, sem dar conta, ali estava, ali estavam. Uma estranha sensação em mim fez com que tudo se tornasse pesado, estranhamente pesado, como se aquele lugar me agarrasse para nunca mais me deixar, um peso imediatamente transferido para os corpos que se encontram. O abraço que esmaga tudo, a distância, a saudade, a lágrima que não pede para cair... ali, em casa!

A melhor coisa de partir é, sem qualquer dúvida, o regresso. São mil aventuras, histórias, experiências e o que mais couber... mas só chegamos verdadeiramente a algum lugar, quando chegamos a casa, quando o abraço da saudade nos levanta os pés do chão.

Imaginei que fosse falar, dizer coisas avulsas e sem sentido, coisas que servem apenas para confirmar que ali estou, bem, inteiro... por fora. Mas nada do que disse foi percebido pela minha mente. Essa estava inteiramente ocupada a sentir o que se sente na chegada, no encontro com aquele que sou, com os lugares, as memórias, com o conforto de me saber de volta, com a certeza de voltar a partir. São momentos únicos, nunca repetidos, para sempre guardados em mim.

28 de jan. de 2007

Tremia tudo por dentro, os gestos medidos e cortados pela conveniência do que era esperado. Foi assim, desde que acordei naquele dia, para te voltar a ver.
Ficámos muitas horas, um em frente do outro, a dizer coisas que se perderam logo ali. Lembro-me claramente de como estavas bonita. Lembro-me de o dizer algumas vezes, e tantas outras disse sem falar. Lembro-me dos teus olhos, perdidos num tempo que já não era nosso. Lembro-me da fome que não tinha. Lembro-me de querer fugir e desejar a todo o momento que não tivesses de ir. Lembro-me de querer gritar, do grito surdo que vibrava dentro de mim. Lembro-me de reprimir com quantas forças tive, o desejo de te calar com um beijo. Lembro-me de me afastar com um passo inseguro, um nó apertado na garganta e a certeza de ter arrancado de dentro de mim, um pedaço da minha vida.
Assisti a tudo do lado de fora de mim mesmo, comovido e revoltado com a dureza dos sonhos, que são os meus. Sonhos cruéis que tenho de perseguir, que me perseguem, que se revelam a cada curva do tempo. Porque a culpa não é do sonho... é minha, que não sei viver de outra maneira!
O R perguntou-me se estava preparado para te ver partir, para te ver viver... Disse que sim, e desejei profundamente que o fizesses, naquele preciso momento. Só assim que não terá sido em vão, saberei que a tristeza será minha porque a quero dessa forma, e o futuro que insisto em querer moldar, deixará para trás a memória doce de um abraço sentido, ponto de chegada e de partida. Porque é na vertigem da queda que somos livres para viver em pleno!
Perguntaste-me porque desisti eu de ti. Não! Não desisti. Apenas não soube viver dessa maneira!