joão filipe gomes_ooutrodemim@hotmail.com

25 de fev. de 2007

Mais uma noite, escura e solitária como muitas outras. Um dia a mais, um dia a menos, o tempo que resta para sair de mim e encontrar o amanhã que chega agora. O corpo cansado, dorido, os músculos contraídos e, estranhamente, sinto-me leve, como se não existisse chão, como se deslizasse. O vento, sempre o vento, passa por mim como se não houvesse matéria, o vento que me preenche os ouvidos e o cérebro, que me transforma e me diz que sou dois! Aqui mesmo, nesta rua escura, onde nunca imaginei passar um dia, sei que não posso ser apenas um!

Vivo nesta luta incessante comigo mesmo, na tentativa vã de encontrar um fio condutor, um destino lógico, um sentido para mim... e agora, no escuro da noite sem lua, sei que não posso vencer sem que a derrota me deite por terra! Sou feito de dois opostos incansáveis, certos na razão de cada um, na vontade de ter razão, na vontade dessas vontades, certos na impossibilidade de saber se o caminhos que cada um tenta seguir é melhor ou pior. Sou feito do cansaço desta luta silenciosa... desta dor que permanece e me mastiga os músculos, as palavras, os pensamentos, que me abre violentamente os olhos o mundo que me rodeia.
Sei agora, levado pelo vento que não tem destino, que de nada me serve lutar. Sei agora que haverá sempre vitória e derrota, que não haverá despojos que compensem o que fica por viver. Sei que perco sempre, porque não posso ser imparcial nesta batalha, porque sou eu, todo eu, quem alimenta o fogo da vontade.
Estou cansado! Terrivelmente casado de lutar pela resposta à eterna pergunta dos meus dias, das minhas noites. Sei agora que nunca saberei se a pergunta faz qualquer sentido... porque não haverá nunca uma resposta que me tranquilize! Sei agora que de nada serve lutar! Resta-me viver!
Olho o céu de estrelas e nenhum luar e sei, com tudo o que resta de certeza em mim, que o mundo mudou, o meu mundo mudou neste instante... sei que nenhum de mim poderá morrer só. Sei que tudo isto é apenas o início, sei que a procura da identidade acabou! Sei agora o que sou!
Aqui, sentado de frente para o mar, vejo o futuro como um livro aberto, vejo as páginas brancas, nenhum vestígio de verdade... essa, escrevo-a eu neste mesmo instante!

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